Não dependa do Sistema Único de Saúde, viva!



Minha mãe Maria Cenira Cavalheiro Dutra faleceu no último dia 10 de março, com 72 anos de idade

Por Laudir Dutra - Por ocasião da morte de um ente querido, principalmente se ele não possui um plano de saúde razoável ou que pelo menos tenha dinheiro para bancar as despesas com médico, translado e outros, a dor é bem maior quando os cuidados parecem não ser suficiente para salvá-lo.
Não quer dizer que aqueles que possuem mais dinheiro viverão e pobres não tenham nenhuma chance, mas os cuidados exclusivos de um médico a um paciente são importantíssimos, as chances de cura ou de acertar um diagnóstico seriam infinitamente maiores.
Citando apenas um exemplo e sem demérito alguma sobre essa ou aquela instituição de saúde, os pacientes do SUS são tratados de maneira distinta no Hospital Virvi Ramos, a entrada para esses é pelos fundos e ao menos que as pessoas possam aceitar essa diferença, é até imoral essa prática, afinal de contas, todos têm os mesmos direitos, pagam, contribuem a vida toda para, se um dia precisar, receberem a atenção ou atendimento igual.
A dificuldade já se percebe quando a pessoa procura o Postão 24 para receber os primeiros atendimentos. Minha mãe permaneceu 48 horas em observação, recebendo todo tipo de medicamento, oxigênio, soro, coleta de material para exame, etc.. e nesse meio tempo, nós da família, não obtivemos nenhuma informação concreta dos profissionais de plantão.
Para falar com o médico, só na troca do mesmo e invariavelmente, só poderia receber algum tipo de atenção quando o profissional recebia as informações sobre o quadro clínico do doente quando o colega transmitia o serviço. Isso aconteceu pelo menos umas doze (12) vezes.
Infelizmente nem sempre o médico (a) chega de bom humor ou receptivo para atender toda demanda. Em geral, limita- se a dizer que ainda não foi até o paciente para saber do seu estado e que recém estava recebendo o plantão e que não tinha nada a declarar. Deve ser difícil para esses profissionais deixar as suas casas, seus familiares para dar atenção a pessoas estranhas, mas esses estranhos não escolheram a profissão para eles e precisam da sua ajuda.
Realmente a nossa saúde é complicada. As pessoas precisam ficar de pé ao lado da mesa do médico, esperando a sua boa vontade e se limitar ao menos a olhar para trás e dar uma palavrinha de conforto, como se fossem os deuses da situação.
Mas retomando a linha inicial de raciocínio, nessas 48 horas que a minha mãe esteve no PA 24, pelo menos uns 6 médicos colocaram a mão nela e todos com uma avaliação diferente, ou pelo menos, uma informação nova, sem muita convicção, apenas com ‘achismos’.
No Virvi Ramos a mesma coisa, minha mãe baixou no dia 04/03, foi para a UTI no dia 05/03 e de lá não saiu mais, faleceu no dia 10/03. No atestado de óbito consta morte às 07h03min, mas, às 21h30min do dia 09/03 quando fui visitá-la, quase a certeza de que já estava morta, por sua fisionomia e inchaço no corpo, resultado do choque séptico que se dá por ocasião da falência múltipla de órgãos.
Desde que a mesma baixou na UTI, em nenhum momento seu estado evoluiu para melhor, pelo contrário, todos os dias recebíamos informações de um médico diferente em cada horário de visitas, às 12, às 16h30min e às 21h.
A competência não se mede pela idade dos profissionais, mas o que se percebe é que cada vez mais a prova de fogo para todas as profissões acontece mais rápido. Me chamou a tenção o quanto são jovens esses médicos. Olhando para o rosto de cada um deles você não tem a sensação de que está seguro e que eles sabem exatamente o que fazer.
As especializações de cada um passa necessariamente pela experiência adquirida e vivência em torno de um objeto de estudo, mas não me parece ser este o caso.
Quando morre alguém das nossas relações ou pessoas que conhecemos, procuramos sempre as razões que levaram a esse desfecho. Por tudo isso dito, temos que estar cientes de que quando alguém adoece uma série de fatos contribuem para isso, ou você não se preveniu adequadamente quando poderia, não procurou ajuda enquanto ainda era tempo.
Não sabemos quando ainda nos resta salvação, é da cultura do ser humano deixar tudo para a última hora, ou procurar ajuda quando a coisa está feia. Por outro lado, parece que o sistema brinca com a saúde alheia quando coloca normas ou impede que as pessoas saibam exatamente onde estão se metendo.
É preciso rever algumas coisas e fazer alguma coisa, pois só percebemos que algo não está bem quando precisamos enfrentar todas essas barras nas instituições de saúde que tratam de forma distinta as pessoas ou quando aparece um médico com cara de jovem adolescente, com olheiras de não dormir direito na sua frente a lhe dizer que ‘Infelizmente as notícias não são boas, fizemos tudo o que foi possível, mas o quadro clínico era grave e não dependia mais de nós”.
Ou estamos ficando loucos ou os papéis se inverteram. O paciente é o médico e o médico virou paciente. (Foto meramente ilustrativa)

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