A fachada da Kiss virou uma espécie de memorial
Por Laudir Dutra
O Ponto Inicial pode constatar in loco o porquê de tamanha comoção que tomou conta de todos os gaúchos. A reportagem esteve em frente ao que restou da Boate Kiss na segunda dia 04 de fevereiro e presenciou, apesar de passados 9 dias, que a tragédia ainda vai demorar para ser amenizada, esquecida jamais.
A rua estreita que lembra as vielas de um famoso bairro, transformou para sempre a vida de todos os moradores de Santa Maria. A frente da boate que tem o nome Kiss (traduzido para o português significa Beijo) virou um cemitério, onde as pessoas vão até lá para depositar flores, fotos, cartazes de protestos e alguns objetos pessoais das vítimas que agora já somam 238 mortos. Muito triste, muito dolorido, muito tudo, menos a capacidade das pessoas aceitarem o que houve sem ao menos ficar indignado. Tudo muito surreal.
A Rua dos Andradas deveria ser fechada e nunca mais ser permitido que nenhuma manifestação de alegria aconteça no local outra vez. Pelo contrário, deveria servir de palco para todo tipo de manifestação ou solicitação por melhorias na segurança, por mais respeito com as pessoas, por menos desigualdade social, menos politicagem, mais dignidade para todos os mais de 7 bilhões de seres humanos do mundo.
Que o ocorrido não passe em vão e que todos falem à exaustão sobre o fato, mesmo que às vezes possa soar como um ‘já deu’, ‘cansou’, ‘esgotou’, pois só assim os responsáveis serão punidos de forma justa. Mas verdadeiramente, sem a justiça de mais de duas centenas de mortes injustas como se uma premonição tivesse tomado conta e que de alguma forma, aqueles, jovens que morreram, deveriam sucumbir exatamente naquele lugar, sem alguma chance de terem seus destinos mudados.
Olhando de cima abaixo a Rua dos Andradas, local da noite fatídica, não dá para imaginar que este cenário não será visto em algum filme de história real, com milhares de famílias assistindo e se emocionando novamente.
Certamente as pessoas especializadas em rádio, TV e cinema criarão uma forma de trazer para as telas esse desfecho que em nada lembra as cenas de amor de Romeu e Julieta ou E O Vento Levou, campeões de bilheterias no mundo todo. Infelizmente contará história parecida como o naufrágio do Titanic, onde milhares de pessoas sucumbiram no maior acidente marítimo registrado acontecido até hoje.
Que pena que todo o mundo finalmente conheceu o RS, mais especificamente Santa Maria, da Rua do Acampamento, Dos Andradas, da UFSM e da RFFSA da forma mais trágica que se poderia supor. Todo mundo viu o desespero dos moradores de um lugar que já foi capital do Estado, especialmente dos pais, parentes e amigos dessas crianças que contavam os meses para se formar e exercer profissão.
O sentimento não poderia ser outro, dor, revolta e desespero e a certeza de que aqueles que se foram não voltarão mais. Quem sabe em outro plano, em outro espaço de tempo e da vida e para concluir um ciclo, eles voltarão a conviver com os seus novamente.
Início da Rua dos Andradas. No topo, o cenário da tragédia
Da minha parte eu não sei, não conheço, buscarei incansavelmente a partir de agora as respostas para as perguntas que todos se fazem nesse momento, pois nosso livre arbítrio permite que pelo menos isso podemos fazer enquanto vivos. Busquemos respostas então para as nossas inquietudes, pelo menos assim poderemos entender um pouquinho ou em parte, o que leva as pessoas a simplesmente sair do nosso convívio para sempre nesse plano espiritual, ou nessa vida.
Força ás famílias, paz às almas e serenidade às autoridades no que tange aos esclarecimentos sobre o que teria acontecido na Boate Kiss na noite do dia 27 de janeiro de 2013.
O desejo de todos é que as coisas sejam esclarecidas, que sejam esgotadas todas as investigações e que no final sejam apontados os verdadeiros culpados, doa a quem doer, pois sem o devido cuidado e sem a total certeza, assim como a fumaça que vitimou a maioria das 238 pessoas até o presente momento, pode ser fatal e injusta. (Fotos Ponto Inicial)
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