Kelin Zanette: “Foi bom participar e saber que a Festa da Uva mostra exatamente aquilo que somos…”


"Não planejei nada, as coisas foram acontecendo naturalmente..."
Por Laudir Dutra
“Participei de projetos de mini empresas, tenho 21 anos, sou solteira, estudo na UCS (Engenharia de produção), estou no oitavo semestre. Pesquisei sobre o curso que queria fazer, gosto de ciências exatas. Quero aplicar a teoria na atividade dos meus pais, que são agricultores”.
Percebe-se que não é a opinião de alguém que está aí para fazer número ou ser mais uma na multidão. Esta é a Princesa Kelin Zanette versão simples, raízes fortes e grande identificação com o seu lugar.
Nos contos de fada, as princesas vivem em seus castelos cercados por montes e vales onde o único barulho é o riacho correndo e os cantos dos pássaros. Parece que Kelin pode ser vista assim. Entre vales e montanhas está a sua casa, na localidade de São Gotardo.
Entre pés de caqui e parreirais de uvas, divide seu tempo entre a colheita do produto, que é exportado para outro estado como Santa Catarina. Ela seleciona, classifica e acompanha todo o processo. Conhecedora do caqui está aperfeiçoando ainda mais seus conhecimentos para em breve poder ajudar de forma mais definitiva na propriedade da família.
Mas antes, uma pausa para falar à reportagem do Ponto Inicial. Kelin está de malas prontas, juntamente com as outras meninas da corte, viaja para o Peru, quando no período de 26 a 29 de maio, mostrará um pouco da Festa da Uva naquele país. Após, provavelmente na primeira quinzena de maio, embarca para a Itália e curte as belezas de lá. Ficará 17 dias (cinco dias por conta do prêmio) hospedada na casa dos dias a maior parte do tempo. Nesse meio tempo, uma passadinha pela Suiça.
Kelin: Simplicidade e apego às suas raízes..

Festa da Uva na sua vida

“Não planejei nada, há dois anos recebi um convite, mas entendia que ainda não estava preparada para participar.
Felizmente, esta mesma pessoa renovou o convite e mesmo sem noção da minha capacidade de ser uma das candidatas, me inscrevi no evento. Não nego que senti um certo receio. Queria participar, mas o ‘NÃO’ dos jurados não me saia da cabeça, isso me incomodava um pouco. Não estava preparada para isso também, por isso, trabalhei com a possibilidade de perder. Isso de certa forma me tranquilizava e me orientava. Estar ali apenas fazendo parte do grupo de 21 garotas poderia ser a melhor forma de participar descompromissada com tudo. Achava naquele instante que o peso nos ombros seria bem menor.
A maior certeza que tive de que eu seria uma das vencedoras foi no momento em que ouvi meu nome nos autofalantes da festa, até então, não tinha esperava fazer parte do trio.
Desde 2000 participo ativamente da Festa da Uva, em todas as edições fui até os pavilhões torcer por outras meninas e isso sempre me encantou de certa forma. Eu via a o trio como algo intocável e fora do meu alcance. Por ser do interior, nunca pensei na possibilidade de estar ali com a coroa na cabeça e sendo uma princesa da Festa da Uva”.
Além de estudar e trabalhar fora, Kelin ajuda na empresa do ramo de frutas, administrada pela família.

Mas o convite não veio por acaso

“Este convite aconteceu uma semana antes do final do prazo de inscrição. Planejei, pesei os prós e os contras. Tive que largar o trabalho, reduzir minha carga horária na universidade. Mas todo o conhecimento e reconhecimento que tive, nenhuma faculdade vai me dar.
Mesmo que tenha abdicado naquele momento de coisas tão fundamentais para a vida da gente como a família e o trabalho e ter dado um tempo no namoro, tudo valeu a pena, pois sei que foi por ma boa causa e não há nenhum tipo de arrependimento quanto a essa escolha. Hoje tudo está de volta ao seu lugar, aumentei o número de cadeiras na UCS, tão logo eu volte da Itália, retomarei o meu trabalho”.

A exposição de alguma forma mexeu com a sua vida

“Não tinha a noção de que seria tão grande assim. O trio recebeu dez vezes mais elogios do que críticas, isso fez com que trabalhássemos tranquilas, não permitindo que nada tenha nos atingido negativamente, possibilitando que absorvêssemos as coisas boas, positivas. Precisei me policiar, deixar algumas manias ou pecados de lado. Sempre tive a noção exata de que eu tinha dar exemplo para muita gente, principalmente para as crianças, para o imaginário das pessoas.
Mas sei que em qualquer atividade que vamos realizar haverá críticas e algumas coisas fora do lugar”.

Participar e ter a noção de que existem outras meninas disputando

“Sempre recebi o apoio das entidades (Associação Trevisani Nel Mondo e Neobus) e das pessoas que me convidaram, que me deixou bem à vontade sem jamais ter me incutido de que a vitória seria certa. Não tive nenhum tipo de ilusão sobre o evento. Na verdade, eu fui mais negativa do que aqueles que acreditavam na minha participação com êxito.
Quando pisei na passarela, fiz de forma tranquila, curti, fiz o meu melhor como se fosse a última vez que eu participaria de um concurso desse tipo.”

Muitos projetos vêm por aí

“Estou aguardando a viagem para a Itália, vamos pra o Peru representar a Festa da Uva. Pretendo voltar para a minha área de trabalho. Já recebi algumas propostas, estou estudando cada uma com carinho e no momento certo, vou me declinar”.

Novo traçado talvez…

“Eu faria tudo exatamente igual. Algumas coisas eu mudaria pelo aprendizado e por tudo aquilo que eu vivenciei. O meu amadurecimento aconteceu no momento certo, estou mais centrada, avalio melhor cada situação. Aprendi a conhecer mais os meus limites, consigo entender e aceitar as diferenças entre as pessoas. As pequenas coisas são mais importantes do que a gente imagina. Elas realmente podem fazer a diferença. Acredito que tenhamos conseguido passar uma imagem positiva e diminuído a distância entre a Rainha e as Princesas da Festa da Uva”.

A insegurança bate em certos momentos

“Houve um momento no pré-concurso que pensei em desistir de tudo. Via a o crescimento das outras meninas e isso de certa forma me assustava e cada vez mais vinha à tona, a minha insegurança. Eu não via a menor chance de estar no trio, pois nunca crio expectativas”.

Uma carga muito grande nos ombros

“Desde o início sabíamos da nossa responsabilidade. No dia seguinte à escolha da rainha e princesas, elencamos os principais pontos que teríamos que trabalhar para representar a cidade da melhor forma. Pelos números finais da festa, acredito que tenhamos cumprido com o nosso papel.
Ainda não estamos pensando na questão de que temos que passar a faixa e a coroa, temos bastante coisas para fazer e passar. Somos o trio de soberanas até 2013. Mas da mesma forma que me preparei para vencer, vou me preparar para passar o posto a outra pessoa”.
"São tantos momentos marcantes: o dia da escolha, o primeiro corso alegórico, a entrega do prêmio ao meu pai e a visita para convidar a presidente Dilma em Brasília e o seu carinho quebrando protocolo aqui em Caxias, fazendo uma referência a nós..."

Momentos marcantes na vida

“São tantos os momentos que vou lembrar para sempre. O dia da escolha sem dúvida é o mais significativo de todos. Não senti jamais em momento algum e em nenhum lugar a emoção que senti naquele dia. Foi uma algo muito forte.
-O primeiro corso alegórico está guardado na minha memória. Quando avistei a Praça Dante eu sabia que todos estariam lá para nos assistir e que seria o momento único. Me perguntei se deveria ser eu a estar naquele carro com todos me assistindo.
-O convite à presidente Dilma em Brasília e a quebra de protocolo quando da sua vinda à Caxias são coisas que não dá para mensurar.
-Ver e sentir emoção com as pessoas, com a tua simples presença. Procuramos retribuir com muito carinho tudo o que recebemos.
-O dia em que entreguei o prêmio de melhor uva bordô ao meu pai. Após a minha escolha nos pavilhões, disse a ele que teria que ter o melhor cacho de uva e que eu gostaria de lhe entregar o prêmio. E aconteceu tudo exatamente como sempre sonhei. Demais!

Sobre o evento e outras considerações

“A Festa da Uva evoluiu muito, o exemplo disso foi a vitória de três meninas com entidades que nunca haviam participado em toda a história da festa. A mudança na forma de avaliar foi importante e agregou qualidade.
O conhecimento que as meninas precisam ter quanto ao lugar em que vivem. É importante que pelo menos possa informar a outras pessoas que vêm de fora sobre os nossos costumes, nossas tradições e forma de vida.
Nunca tive vergonha da minha condição simples. Meus pais me ensinaram e passaram valores bons e levarei isso sempre comigo. Gostei de estar representando aquilo que realmente a festa celebra.
Vou levar comigo todas as pequenas coisas, lembranças que ganhamos de pessoas simples, iguais a gente. Podem ter a certeza de que estão guardadas como joias raras”. (Fotos Ponto Inicial)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...