Área nobre de Caxias pode virar alvo de especulação imobiliária


Fotos Ponto InicialFundada em 1932, portanto há 80 anos (vai completar ainda este ano), a Gazola S/A Indústria Metalúrgica é uma empresa genuinamente familiar e a mais antiga de Caxias do Sul. A Gazola há muitos anos deixou de ser a grande potência que a tornou referência no RS e no Brasil, tudo em decorrência das dificuldades econômicas verificadas ao longo dos tempos, fazendo com que muitos trabalhadores, alguns que trabalharam pela primeira vez na vida, entrassem na justiça, reclamando seus direitos trabalhistas.
No inicio deste ano após a mesma ter um de seus imóveis leiloado através de acordo coletivo para liquidar os direitos trabalhistas, os diretores da empresa vêm tentando junto ao Judiciário e Executivo municipal uma forma de resolver os impasses e entraves que possibilitem solucionar um problema que deveria ser sanado no ato do arremate do imóvel leiloado.
Diversas reuniões com a Prefeitura cuja pauta era de salvaguardar o lema do fundador José Gazola “O crescimento e o civismo” acabaram sem efeito.
Nos seus tempos áureos, a Gazola S/A Indústria Metalúrgica já operacionalizou com mil funcionários e centenas de colaboradores, além das terceirizadas que agregaram conhecimento e contribui para elevar ainda mais o nome Gazola além fronteiras brasileiras. Atualmente, apenas 62 pessoas estão na folha de pagamento e a forma que a empresa encontrou para conseguir cumprir com sua responsabilidade social, são as parcerias como: locações de espaços para outros empreendedores, a disputa desleal do seguimento de utilidades domésticas que se mantém através da dedicação dos experientes colaboradores e a linha rodoviária de peças para furgões.
A área em questão está localizada na BR 116, compreende 40 mil m², hoje avaliada em R$ 1.000,00 (um mil) o m², que faz divisa com o Monumento ao Imigrante, visitado por centenas de pessoas todos os meses do ano, por ser a única homenagem nacional aos colonizadores, ainda nos anos 50. Sua pedra fundamental foi lançada em 1950 pelo Presidente da República Eurico Gaspar Dutra que recentemente foi incorporada ao Parque Nacional do Monumento do Imigrante, uma conquista nacional para os munícipes caxienses.
A construção do Monumento do Imigrante partiu da iniciativa de uma comissão comunitária, que realizou um concurso para definir o melhor projeto dedicado a homenagear os imigrantes italianos do estado. O projeto escolhido foi de autoria do escultor gaúcho Antônio Caringi. A construção se iniciou em 1951, e a obra foi terminada em 1954, sendo inaugurada pelo Presidente da República Getúlio Vargas em 28 de fevereiro. A fundição das partes de bronze ficou a cargo da Metalúrgica Abramo Eberle, com supervisão de Tito Bettini, e os elementos de alvenaria e pedra são obra de Silvio Toigo e José Zambon.
A destinação inicial do monumento foi alterada pela Lei 1.801 de 2 de janeiro de 1953, que determinou que se homenageasse com ele não só os imigrantes italianos, mas todas as etnias que contribuíram para a povoação e progresso do Brasil, passando a ser um monumento nacional. Em 13 de setembro de 1985 o monumento foi doado ao Município pela Comissão Pró-Monumento, sofrendo diversas obras de restauro entre 1999 e 2002.
Sobre as tratativas dos destinos da Companhia Gazola, a Prefeitura e uma empresa adquirente que não pode explorar o espaço como indústria ou comércio, em virtude do gravame causado pelo plano diretor, chegaram a um acordo sobre o interesse do município em adquirir os 11mil m² levados a leilão através de índices construtivos, o que não oneraria em nada os cofres públicos em virtude de que atais índices seriam direcionado para uma única obra e não comercializado como tem feito o município para agatanhar fundos para algumas obras e ainda por cima, contemplaria os moradores da região com um espaço de lazer tão vital para a comunidade pois o imóvel teria a finalidade de ser incorporado ao Parque Nacional do Monumento do Imigrante, preservando um patrimônio nacional de 80 anos de idade.
Mesmo a prefeitura ter formalizado seu compromisso de liquidar o contencioso trabalhista que foi resolvido através do leilão do imóvel da Gazola, as negociações simplesmente ficaram “ao léu” quando a prefeitura não depositou no prazo solicitado os índices junto à justiça do trabalho deixando claro quanto ao impasse criado.
Para Clébia Casagrande Trajano, a Controller da Companhia, o objetivo principal nesse momento é de retomar as tratativas de acordo com os poderes Executivo e Legislativo para tornar viável a continuidade das atividades da Gazola, uma vez que o espaço físico é muito grande e poderia perfeitamente ser desmembrado em favor da comunidade beneficiando os trabalhadores que possuem seus direitos adquiridos e não liquidados pelos prometidos índices construtivos.
“Queremos voltar a fortalecer a Gazola em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul e melhorar a imagem dentro do cenário nacional. Vamos procurar não cometer os mesmos erros do passado e utilizar o bom nome Gazola para alavancar negócios, portanto, pedimos ajuda da prefeitura e do povo de Caxias do Sul para salvar uma empresa que é patrimônio da cidade e do Brasil. Não queremos nos tornar elefantes brancos como a antiga Maesa que pode ser tombado e o prédio da Eberle que está em ruínas dentro da área central da cidade, que ainda permanecem sem uma perspectiva de futuro”.
A Controller, salienta ainda que existe soluções, desde que todos estejam imbuídos de resolver a questão. “O caminho mais viável seria o acerto com a prefeitura. Com uma parceria entre a Gazola e o município, manteríamos uma indústria de 80 anos viva e garantiríamos o sustento de muitas famílias, que igualmente esperam uma solução favorável”, fala esperançosa, ressaltando que tanto o Plano Diretor e as diretrizes para levar adiante qualquer projeto que diz respeito a essa área já existem e a disposição é de ofertar parte da mesma como pagamento pelas dívidas trabalhistas pendentes, uma vez que o parque fabril não seria afetado com a medida, uma vez que está bem explícito de acordo com levantamentos técnicos, o espaço que seria desmembrado.
Clébia ainda desabafa dizendo, “…Estávamos bem esperançosos de que um acordo pudesse ser concretizado, principalmente depois da última reunião com o chefe de gabinete do prefeito Sartori, Edson Néspolo, onde o mesmo se prontificou em encaminhar internamente o assunto e encontrar uma solução para o impasse, mas nada daquilo que está documentado foi levado adiante e agora estamos aguardando sem nenhum norte os compromissos assinados e não cumpridos”, conclui.
A Gazola SA Indústria Metalúrgica é de capital aberto e opera há muitos anos na Bolsa de Valores. Todas as decisões são tomadas através de diretoria eleita por consenso de acionistas.
A brava patente militar empunhada na 2ª guerra pela companhia após ter atendido ao chamado cívico do país está sendo renovada este ano após ter conseguido sair da condição falimentar se mantendo operacional para voltar, não agora, mas a médio e longo prazo, a ser novamente uma empresa de posição Nacional.
O maior orgulho dos seus gestores é o fato da Gazola abrigar um verdadeiro museu que conta a história metalúrgica ganhando um dos troféus Dilda Bandeira e ainda com o museu de artefatos de guerra, fruto de parceria com as Forças Armadas. Até hoje a Companhia mantém as suas instalações originais intactas, com cores e padrões.
No âmbito da empresa, existem espaços para retiros e remete a todos aos áureos tempos em que a vizinhança tinha a mesma como referência de localização e sustentabilidade.
Entre as certificações, está a ISO 9001-2002, orgulho dos funcionários e corpo diretivo. A comunidade espera que as questões sejam equacionadas e que tanto o Executivo como o Legislativo não deixe que a especulação imobiliária tome a frente da história do município e defenda uma empresa de 80 anos que teve sua história cunhada em aço inox.

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