Foto Jornal Ponto InicialIsidoro Zorzi, 63 anos, é professor no Departamento de Sociologia da UCS desde 1967 e assessor da Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional desde 1992. É formado em Filosofia pela Universidade Católica de Pelotas e com Especialização em Sociologia e Ciência Política pela UFRGS.
CAXIAS DO SUL -Foi eleito pela primeira vez como reitor em 31 de março de 2006 para exercer o período até 2010. Já o seu segundo mandato iniciou após sua reeleição em 2010, devendo permanecer no cargo até 2014.
Isidoro Zorzi tem pautado sua atuação com muito diálogo junto aos alunos e professores. Enfrentou algumas fortes manifestações até hoje, principalmente do DCE, que realizou passeatas e ocupação da própria reitoria, contra os reajustes das mensalidades e a maior participação dos acadêmicos nos assuntos a eles relacionados.
Entre as suas principais propostas no primeiro mandato, se destacavam a inversão de prioridades, focando os fins da Universidade, reformular a estrutura organizacional, readequando as funções das pró-reitorias, centros e demais unidades com vistas à descentralização de funções e decisões, a qualificação do ensino e da aprendizagem, consolidar e ampliar programas de mestrado, doutorado e pesquisa e racionalizar o custeio e ampliar as fontes de receitas da UCS, desenvolvendo a Educação Continuada e implementando a Educação à Distância.
Já por ocasião da posse na sua reeleição em 2010, o professor Isidoro Zorzi reafirmou a sua disposição em manter o processo iniciado em 2006. Continuar com o processo de mudanças estruturais, adequando a UCS ao seu real tamanho e manter o objetivo de fazer uma administração responsável, transparente e sustentável, procurando dar ênfase principalmente à pós-graduação em mestrado e doutorado. (stricto sensu).
O reitor Isidoro Zorzi concedeu pela primeira vez entrevista exclusiva ao Jornal Ponto Inicial, pontuando alguns assuntos de interesse da coletividade, principalmente da comunidade acadêmica. Acompanhe abaixo.
JORNAL PONTO INICIAL – Como é administrar uma Universidade formada por quase 40 mil pessoas (mais de 36 mil alunos, mais de 1.100 professores e mais de mil funcionários) e um orçamento em torno de R$ 230 milhões?
PROFESSOR ISIDORO ZORZI – Primeiramente com tranqüilidade, temos uma organização descentralizada, administramos uma instituição que não é nossa e quem nos cobra é a sociedade e a demanda em torno de 38 mil pessoas, entre alunos, professores e funcionários. Sem contar o Hospital Geral (HG) que também agrega mais responsabilidade e atenção.
Temos uma equipe bastante comprometida com tudo que envolve os diversos campus e canais de participação diretos.
Sabemos da complexidade que é a Universidade e temos a perspectiva de como resolver as questões pertinentes a ela.
PI – Se confirmada a vinda da UFRGS para a região, a UCS, encara isso como uma concorrência ou entende que isso soma em esforços para dar mais opções de ingresso ao ensino superior?
ISIDORO ZORZI – Existem os dois lados da moeda. Que vai ser concorrente isso não resta a menor dúvida. Se posso fazer uma faculdade de Engenharia ou Medicina grátis, porque vou pagar. Acredito que isso será benéfico para todos, para os alunos e também para as próprias universidades que terão que se qualificar cada vez mais para manter as suas conquistas. Nessas questões todas, acredito que o principal e o diferencial mesmo será a qualidade do curso.
Caxias e região merecem uma universidade pública, mas não podemos esquecer o que já existe. Já temos uma instituição pública de ensino superior que o IFET – Ensino Federal de Educação e Tecnologia – que oferece curso superior em Bento Gonçalves e Caxias do Sul. Isso não é novidade. Aqui já funciona há um ano e em Bento há mais tempo.
Essa reivindicação da UFRGS para a serra não é novidade, já acontece desde 1960, portanto há 50 anos já se falava dessa possibilidade. Defendo a sua vinda para cá, desde é claro para qualificar o que já existe e não como algo revolucionário que vai mudar os rumos do ensino praticado por aqui. Vale lembrar que nenhuma outra universidade possui a estrutura que a UCS tem.
Pensando dessa maneira e somando-se aos esforços, porque o MEC não usa a estrutura ociosa que temos para contemplar aqueles que buscam o ingresso no ensino superior?
Seria mais barato do que adquirir o espaço público, contratar profissionais e manter tudo isso.
Acredito que essa política perniciosa do MEC cria mais estrutura, mas ao mesmo tempo encarece ainda mais os serviços. Devemos otimizar, usar os espaços que já existem por aí e que estão ociosos, como o prédio onde funciona hoje a FAI, por exemplo, que pode abrigar uma série de demandas, só para citar um de tantos.
É preciso deixar bem claro que o objetivo principal da UCS não é ganhar dinheiro e sim prestar serviços, pois temos contas a pagar. Lembrando ainda que o poder decisório da UCS é de apenas 56%. Do total, 22% é do MEC, 11% do Estado e 11% do município de Caxias do Sul.
PI – Em caso de uma nova concorrência, o que fazer para manter o quadro acadêmico?
ISIDORO ZORZI – Estamos investindo mais na qualidade dos nossos professores, funcionários, modernizando a biblioteca e precisamos fazer isso para melhorar a oferta de conhecimentos.
PI – Em sua opinião, a redução da mensalidade passa pela necessidade de competir em igualdade de condições?
ISIDORO ZORZI – Nossas mensalidades são calculadas em cima dos nossos custos. A diminuição só poderá ocorrer quando houver repasses de recursos e isso está longe de ocorrer, pelo menos nesse momento não temos essa perspectiva. Nós não reajustamos os valores, apenas nos adequamos às necessidades, temos custos com professores e funcionários, que por sua vez estão atrelados a uma categoria específica com representação sindical e que por força das leis, devem receber reajustes por ocasião de dissídios coletivos. Mas de uma maneira geral, se comparamos com outras instituições, estamos dentro da média no Rio Grande do Sul.
Só para constar, atualmente dispomos de quatro mil alunos beneficiados com o ProUni e dois mil bolsistas e aos poucos vamos aumentando esses percentuais.
PI – Há alguns anos atrás a Universidade de Caxias do Sul figurava entre as melhores do Brasil e do mundo e isso era motivo de orgulho para todos. Porque hoje isso não é assim tão valorizado ou divulgado?
ISIDORO ZORZI – Estamos direcionando a divulgação daquilo que é mais importante, como a qualificação dos nossos serviços e ampliação dos cursos. Hoje temos onze cursos de mestrado e quatro de doutorado. Nosso centro de pesquisa está sendo reconhecido no mundo inteiro e serve de tese para muitos profissionais que se utilizam daquilo que aprenderam, citando a UCS como parâmetro.
Antes o nosso marketing divulgava aquilo que sociedade gostaria de ouvir ou ver, enquanto que a realidade do que realmente somos não aparecia. Temos que ter qualidade no ensino e não nos nossos folders. Se olharmos para dentro, a mídia impressa não relatava tudo o que a UCS é de verdade. Mas só a sociedade pode avaliar o que somos. Acredito que estamos entre as 100 melhores da América Latina.
PI – Em sua opinião, qual a providência a ser tomada no sentido de equacionar tanta falta de estacionamento no âmbito do campus da UCS á noite. O transporte coletivo não está atendendo as necessidades dos alunos?
ISIDORO ZORZI – Os poucos espaços para estacionamento realmente estão defasados, pois o número de veículos cresceu mais do que o número de alunos nos últimos tempos.
O campus foi direcionando para atender as pessoas, mas esse acesso precisaria ser feito coletivamente. Bem ou mal estamos acomodando a todos que chegam, mas vai acontecer de um dia isso não ser mais possível e vamos tratar desse assunto no tempo adequado.
Essa questão não é prioridade agora para investimentos a curto prazo, isso deve ser estudado em conjunto com o poder público e a concessionária dos transportes coletivos.
PI – Algumas universidades brasileiras aboliram o vestibular e adotaram o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, ao mesmo tempo em que aumentaram o percentual de vagas para alunos que tenham cursado o ensino médio em escola público ou que possuam renda per capta de um salário mínimo. A UCS em algum momento pensou nessa possibilidade?
ISIDORO ZORZI – Não pensamos na eliminação do vestibular, tradição na UCS. Já usamos o ENEM para alguma parte do vestibular, mas isso vem gradativamente. A utilização do ENEM passa por uma questão de regularidade e logística. Recentemente todos nós acompanhamos os episódios envolvendo as provas desse instituto. Façamos um raciocino lógico e rápido. Nós temos os nossos prazos, o nosso calendário de matrícula e não podemos esperar os resultados para realizar o que sempre fizemos. Não podemos ficar reféns de terceiros para prosseguir com a vida dentro da nossa instituição.
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
Com 44 anos de atividades, a UCS conta com cerca de 38 mil alunos, cerca de mil professores, sendo 80% com título de mestre e doutor.
A UCS tem 76 cursos de graduação (94 habilitações e 211 opções de ingresso), 11 mestrados e quatro doutorados, aproximadamente 100 cursos de especialização e MBA e diversos programas complementares.
Comunitária e regional está entre as maiores Universidades do Brasil, e é parte importante para o desenvolvimento regional. Com unidades universitárias em Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Vacaria, Farroupilha, Nova Prata, Veranópolis, Guaporé, São Sebastião do Caí e Canela, e 13 pólos de Educação a Distância, a UCS está instalada numa região com mais de um milhão de habitantes.
Sua estrutura oferece cerca de 790 laboratórios, mais de 500 salas de aula e um sistema de 16 bibliotecas, além de um acervo eletrônico de e-books com cerca de 2,4 títulos.
A UCS já formou mais de 70 mil profissionais e alcançou reconhecimento nacional e internacional. Destaca-se pela oferta de cursos conceituados, pela pesquisa consolidada e infraestrutura em constante modernização.
Pesquisa
Além do crescimento e fortalecimento dos programas Stricto Sensu, a UCS tem pesquisas realizadas em 23 Núcleos de Pesquisa (NP) e 16 Núcleos de Inovação e Desenvolvimento (NID), que abrigam 145 projetos de pesquisa e 323 pesquisadores de diferentes áreas de atuação.
Por Laudir José Dutra
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