A difícil tarefa de fazer Arte e Cultura


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Por Laudir Dutra – laudir43@yahoo.com.br
CAXIAS DO SUL - Para muitos, cultura é simplesmente alguém subir num palco, pegar um microfone e recitar versos do Pablo Neruda, de um Mário Quintana ou ler um texto da Martha Medeiros, do Luis Fernando Veríssimo, ou de outros tantos autores.
Para outros vai mais além, é preciso viver aquilo que está se propondo e entender, que o limite na verdade é não ter limites quando se trata de expressar a arte e a cultura através de um olhar diferente, mesmo que isso muitas vezes, possa significar abrir mão de um monte de coisas, como a falta de dinheiro, de investimentos das iniciativas público e privada.
Existem tantas leis que tratam ou que deveriam amparar as boas iniciativas expressivas na área da cultura, mas acabam se perdendo em algum lugar e não chegam ao destino final, que são os empreendedores visionários, aqueles que acreditam e oportunizam a todos os artistas, famosos ou não, a mostrar seu trabalho.
Na cidade existe um expoente visionário que acredita na possibilidade de se fazer arte e cultura. Pintura, desenho, exposição, quadros, gravuras, quadrinhos, jornais e revistas. Este é o mundo de Mona Carvalho, Curadora Independente que acalenta um sonho, difundir as artes visuais através de um grande centro de referência.
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“Optei pela arte porque isso já vem de família, minha mãe era do meio, então o gosto natural foi uma coisa que fluiu sem muito esforço.
Esse caminho me abriu muitas portas, tive a oportunidade de viajar bastante, conhecer lugares que nunca imaginei como Espanha, Itália e Colômbia, sem contar as cidades brasileiras que me ensinaram muito e me deram alguma bagagem”.

Arte aqui

“É muito difícil fazer arte na cidade pela falta de valorização, acredito que isso seja mais uma questão cultural, do não conhecimento em si. O ideal seria criar a cultura do consumir, saber da sua importância e todos os aspectos que ela abrange”.

Curadora de Arte

“Praticamente tive que criar uma nomenclatura que muitos nem sabiam o que era. Quando trabalhei no Ordovás senti que os artistas ficavam um tanto perdido, daí a necessidade de estabelecer esse trabalho para que de alguma forma, pudesse montar e difundir por todos os cantos e espaços existentes. Sinto-me responsável por tudo o que diz respeito a arte, pois vivencio o trabalho e o esforço dos artistas. Meu papel é intermediar o artista e o público”.

Inserção e dinheiro

“A venda é uma consequência, não faço uma exposição pensando no lucro. Meu foco é mais cultural do que comercial. É preciso oportunizar o artista de alguma forma.
Pena que as alternativas de espaços são reduzidos, o ideal seria que tivéssemos pelo menos mais opções com lugares amplos”.

Expectativas por resultados
“Exposição de arte é estar livre para qualquer interpretação. Se a pessoa ver e gostar, ela vai guardar. Mas tenho isso de que se a pessoa adquirir é dela, não tenho como interferir se a obra terá o destino que o artista gostaria que tivesse”.

Quanto custa fazer arte

“É preciso pensar mais naquilo que a arte proporciona. A gente vai desenvolvendo um olhar crítico e não temos a noção do seu valor enquanto mercadoria.
Não existe uma fórmula mágica para detectar o real valor de um artista. Acho que é o envolvimento de cada coisa que vai dizer se ele está pronto ou não. Cada um é único, não existe uma regra”.

A cidade como Capital da Cultura

“A gente evoluiu bastante desde que Caxias foi escolhida para ser a capital brasileira da cultura. Realizamos bastante desde então, coisas novas aconteceram e temos que divulgar isso, o que foi feito nesse período.
A vida continua, faz cinco anos que isso aconteceu, já está na hora de parar e seguir adiante sem olhar para trás. Bola pra frente, já deu!

Sonho acalentado
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“Meu grande sonho é ter um centro cultural com pelo menos cinco galerias de arte, voltado par as artes visuais, artes plásticas, mas para isso teria que existir um investidor disposto a abraçar essa ideia.
Não dá para ficar a vida toda esperando pelo poder público, temos que ter algo realmente independente que não fique atrelado a nada nem a ninguém.
Hoje eu tenho parceiros, pessoas que trabalham juntos. E existem artistas eventuais que realizam um ou dois trabalhos e acabam saindo ou fazendo outras coisas”.

Momento complicado

“Oscila um pouco esse sentimento de lidar com os poucos recursos e a falta de reconhecimento, valorização, principalmente nas questões financeiras. Nem todo o artista tem condições de bancar o seu trabalho, de se desenvolver sozinho.
Mas temos que acreditar naquilo que estamos envolvidos.
Persistência acima de tudo, se dedicar e acreditar que daqui a pouco as coisas vão acontecer. Tenho a certeza de que se eu largasse estaria sendo injusta com um monte de gente.
A dificuldade é saber que tudo é em longo prazo. Hoje tenho um espaço dentro da minha própria casa, alguns parceiros e vamos trabalhando aqui e ali. Hoje estamos, eu e alguns amigos com o Atelier na Euclides da Cunha, amanhã não sei. O certo mesmo é que seja onde for, a disposição em mostrar a arte vai prevalecer”.


Sobre Mona Carvalho
Mona Gazola de Carvalho, 29, natural de Caxias do Sul, criou a Curadoria Independente, onde atua como produtora cultural e curadora de artes visuais, realizando exposições de artistas, coordenando espaços culturais e criando projetos artísticos desde 2007. Graduada em Licenciatura Plena em Educação Artística na Universidade de Caxias do Sul, estudou na Universidade de Santiago de Compostela – Espanha, no curso de História da Arte, na Università Degli Studio di Verona – Itália, cursando Conservação dos Bens Culturais e na Universidad Autonoma de Bucaramanga – Colômbia, no curso de Artes Audiovisuais. É especialista em Arteterapia também pela Universidade de Caxias do Sul (UCS).
A Curadoria Independente de Mona Carvalho trabalha com atividades ligadas a produções artísticas, que envolve consultoria/assessoria em projetos culturais, realização de exposições de arte, informações de editais e prêmios, assessoria de imprensa, comunicação, arte gráfica, textos críticos, release e convites, além de pensar e criar em sociais através da arte e da cultura para empresas.
Atualmente Mona é membro titular e coordenadora da CASF – Comissão de Avaliação, Seleção e Fiscalização do FINANCIARTE – Financiamento da Arte e Cultura Caxiense e do Conselho Municipal de Cultura, ambos representante titular da área de Artes Visuais desde 2008. A partir de novembro de 2012, Mona, foi eleita a vice-presidente do Conselho Municipal de Cultura.
Com sua preocupação com a valorização e descentralização da arte, Mona Carvalho é realizadora de diversos projetos culturais como o “Atelier Livre”, o “Blues Art Ville” junto ao Mississippi Delta Blues Festival, “Projeto Circulação da Arte” juntamente com a artista Cristiane Marcante, é realizadora do projeto “Arte na Rua” e curadora do coletivo de artistas 005arte responsáveis pela “I Feira de Arte Coletiva” em Caxias do Sul e pela primeira edição do Walking Gallery no sul do Brasil. (Foto Laudir Dutra)

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