Entrevista: Milton Corlatti, “o Sr. CIC”

A CIC – Câmara de Indústria e Comércio e Serviços de Caxias do Sul completa no dia 08 de julho 110 anos. Á frente da entidade, que tanto orgulha a cidade e que por dois anos consecutivos foi a marca mais lembrada do Rio Grande do Sul, recebendo troféus alusivos, Milton Corlatti, destemido e que sofreu muita resistência por alguns setores, inclusive dentro da própria agremiação, mas que ao longo desses quase anos como presidentes, soube conduzir com esmero e zelo, dividindo as atribuições com os demais membros da sua diretoria e valorizando os funcionários.
Abaixo segue uma entrevista exclusiva concedida à nossa reportagem, onde ele fala sobre o segredo do seu sucesso, dos entraves inerentes ao cargo e da sua satisfação em poder entregar ao próximo presidente em dezembro uma CIC que tem a sua cara. Também falou sobre Copa do Mundo de 2014, da Festa da Uva, do Aeroporto da Serra Gaúcha e do cotidiano da cidade.

COPA DO MUNDO 2014 – TRÂNSITO
“Acredito que não só Caxias como outras cidades estão com problemas viários, mas para 2014 tenho a esperança de que isso terá uma solução. O prefeito José Ivo Sartori deve com certeza ter as suas ações consolidadas, apesar de que estamos praticamente a dois anos e meio do evento.
Quanto à copa especificamente, não sofremos um grande impacto, pois Caxias do Sul já vem trabalhando a dois anos nessa questão, principalmente na necessidade de receber bem as pessoas, turistas e delegações das seleções.
Ao longo dos tempos, nossos administradores tiveram apenas a preocupação das pessoas consumirem, mas não deram as condições ideais para isso. O trânsito só pode ser melhorado pela cultura das pessoas. O escoamento de carros na área central só terá uma melhor fluidez quando algumas pessoas perceberem que não há em alguns casos, a necessidade de passar pelo centro para chegar até suas casas. Quando as estações de transbordos que já estão em estudos estiverem prontas, teremos uma dinâmica melhor e o transporte coletivo ganhará mais adeptos, assim como é feito na Europa.
Temos que mudar nossos hábitos, utilizar o carro num sistema viário igual ao de Caxias do Sul é desnecessário para quem mora nos bairro e trabalha no centro. Só mesmo em casos extremos, iguais aos meus por exemplo. Pela necessidade de se estar em muitos lugares em pouco tempo, venho de carro, mas posso ser uma das raras exceções. Menos mal que está havendo uma descentralização dos serviços, muitos deles está sendo direcionados para os bairros, levando oportunidades às comunidades também.”

AEROPORTO DA SERRA GAÚCHA
“A Prefeitura de Caxias do Sul já está trabalhando e dentro dos próximos dias deve tornar a área escolhida como de utilidade pública. O próximo passo será no sentido do governo federal definir que tipo de empreendimento terá aqui, se deve ficar com a iniciativa privada a maior parcela de contrapartida ou se o governo encampe o projeto e torne o novo aeroporto como sendo da união. A partir daí teremos uma melhor visão dos rumos que devem ser tomados.
Muitos empresários têm o maior interesse que o aeroporto tenha uma trajetória definida e rápida, mas antes de tudo, deve ser criada uma lei que os oriente nesse sentido, pois não se pode sair por aí distribuindo dinheiro indiscriminadamente sem nenhum amparo legal.
Sobre o prazo de conclusão da obra, não acredito que o prazo de 10 anos seja extrapolado, pois todos têm interesse na questão. A Rota do Sol, por exemplo, sempre mencionada quando se fala em prazos, não pode servir de parâmetro para os debates, pois ela se deu em outra época, os pensamentos eram diferentes e as tratativas se deram com outros direcionamentos, hoje a realidade é bem diferente. Se houver empenho de todos e a continuidade no mesmo sentido de pensamento, não tenho a menor dúvida de que vai acontecer provavelmente antes do prazo previsto.

MATURIDADE DE CAXIAS
“Caxias do Sul deve atingir a sua maturidade daqui a 50 anos no mínimo, pois as suas demandas são mais demoradas do que a maioria das cidades de mesmo porte, pois ainda somos considerados, apesar dos 500 mil habitantes, uma cidade pequena.
Infelizmente não conseguimos atender as demandas de pessoas que vêm oriundas de outros lugares todos os dias e identificamos nos bairros essas pessoas. É o pai, o filho que vem morar aqui e acaba trazendo os parentes, os amigos mais chegados e vice versa.
Dessa forma, na área social é onde requer o maior cuidado, aliás, onde já estamos empregando maiores esforços e temos que ter essa concepção. Direcionar esforços para que todos tenham as mesmas oportunidades nas áreas identificadas por eles, profissional, educacional e de saúde. Temos um nível bom como município e temos que estar focados no tripé Educação, Saúde e Segurança.
Na área da Saúde, somos referência em alguns aspectos, temos uma boa quantidade de UBS nos bairros e que apesar da greve dos médicos, não se pode achar que tudo está errado e temos que começar do zero.
No momento em que a Educação estiver em outro patamar, com a construção de creches para que os filhos possam ficar seguros, com o envolvimento da União, do Estado e do município, aos poucos a insegurança vai dando lugar à tranqüilidade.”

TURISMO
“Falando agora profissional e pessoalmente, tendo em vistas à Copa do Mundo em 2014, desenvolvemos uma empresa de transporte e já trabalhamos nessa área, agregamos esse transporte de executivo com automóveis. Os resultados são excelentes.
Mas falando de Caxias do Sul, mais especificamente, acredito no nosso potencial turístico, temos um turismo de negócio que aos poucos ganha em importância e que tem um grande aporte da rede hoteleira. Existem cidades próximas a nós que se dedicam mais nessa área, mas não possuem pólo industrial e nós temos esse diferencial.
Temos que divulgar mais internamente, o caxiense não conhece os pontos turísticos da cidade e com isso acabam involuntariamente desviando quem vem de fora para outros centros. Temos que conhecer para informar melhor e falar com propriedade, só assim teremos mais pessoas vindo e espalhando para outras, numa verdadeira corrente positiva.”

CAXIAS 2030
“Todos gostam de expressar suas idéias, mas existem maneiras adequadas para isso. As discussões sobre os rumos que Caxias do Sul deve tomar daqui até 2030 envolve toda a sociedade, as entidades representativas representam os anseios das comunidades que elas representam, por isso que CIC, UCS, Prefeitura, UAB e Câmara de Vereadores estão inseridas, cada uma dentro de cada pensamento. Cabe ressaltar que todas as outras entidades cadastradas na CIC foram chamadas para o debate, mas a sua maneira discutiram internamente e nos passaram o parecer dessas discussões. Acredito ter sido positivo o resultado até aqui”.

FESTA DA UVA 2012
“É minha segunda Festa da Uva e em cada uma delas tive o mesmo sentimento nos preparativos iniciais. Vai ser uma grande festa sem sombra de dúvida, tudo está conspirando para isso. O envolvimento das pessoas é muito importante e isso só agrega. Apenas na escolha da coroa, houve o envolvimento de 800 pessoas, 90 inscrições adultas para escolher o modelo e 700 crianças que fizeram desenhos aguçando a imaginação até daquele muitas vezes fica alheio à nossa festa maior.
Dia 23 de julho ocorre o filó das Embaixatrizes e nossa estimativa é de um público em torno de 2000 pessoas. O povo tem que abraçar a Festa da Uva, essa é a receita”

CÂMARA DE INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS
“Estar à frente da CIC nesses dois mandatos, (acaba em 31 de dezembro) foi algo que levarei para toda a vida. Fizemos uma gestão compartilhada juntamente com os nossos vice-presidentes. Saio em dezembro muito mais fortalecido, mais consciente sobre as coisas da cidade e mais preparado para enfrentar os desafios que por ventura possam vir.
Acredito que consegui mostrar como fazer junto com as pessoas da diretoria, quadro de funcionários, recebemos a todos com a mesma educação e igualdade. Com humildade creio ter conseguido conduzir a entidade, contrariando algum ceticismo que pairava no ar quando da indicação do meu nome.
Na nossa gestão conseguimos trazer pela primeira vez um ministro do Banco Central e abrimos as portas para muitas personalidades que nos ajudaram dessa forma a tornar a CIC conhecida nacionalmente.
Conseguimos fazer com que as pessoas que trabalham na entidade gostassem daquilo que fazem e foram eles que realizaram o trabalho. O presidente atende a todos e não faz distinção a ninguém e essas pessoas acabam se somando e fazendo o bem a todos os envolvidos de alguma maneira.
Nesses quatro anos me dediquei por que tenho uma equipe muito boa que me dá cobertura na minha ausência. Tenho a noção de que não somos eternos e um dia deve acontecer as mudanças, por isso temos que tratar bem as pessoas. Os resultados acabam por vir mais cedo ou mais tarde”. (Fotos Júlio/Objetiva).

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