Entrevista exclusiva: Evaldo Antônio Kuiava, Reitor da Universidade de Caxias do Sul (Parte l)

      O professor Evaldo Antonio Kuiava está na sua segunda gestão à frente da Reitoria da UCS. Possui graduação em Filosofia e MBA em Gestão Universitária pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), mestrado e doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), tendo desenvolvido, no doutorado, estágio em Kassel, Alemanha. Com larga experiência nacional e internacional, trabalhou como professor convidado na Université Lumière Lyon 2, França (2013). Desde 1993, é professor e pesquisador na Universidade de Caxias do Sul nas áreas de Filosofia e Educação, atuando nos programas de Pós-Graduação em Filosofia e em Educação.
    É coeditor da revista Conjectura, da Área do Conhecimento de Humanidades. Ao longo de sua trajetória acadêmica, colaborou para a gestão universitária como chefe de Departamento, diretor de Centro e pró-reitor Acadêmico. Ademais, tem experiência como consultor empresarial nas áreas de Responsabilidade Social e Ética Aplicada. A partir de sua experiência na pesquisa e no ensino, ministra palestras e cursos nas áreas de Gestão de Instituições de Ensino Superior, com ênfase em modelos de universidades, gestão do conhecimento e relações pedagógicas.
    Recebeu, em 2016, o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia da Educação pela Organización de las Américas para la Excelencia Educativa e de Embaixador de Paz pela Organización de las Américas para la Ética en la Educación. É membro do Conselho Consultivo do Centro Tecnológico de Mecatrônica SENAI e do Centro Tecnológico Automotivo SENAI/Caxias do Sul. É reitor da Universidade de Caxias do Sul desde maio de 2014.
Foto e texto: Laudir Dutra – laudir43@yahoo.com.br 

Qual o peso de uma instituição cinquentenária e consagrada como a Universidade de Caxias do Sul?
Após cinquenta e dois anos, estamos honrando aquilo que os fundadores propuseram para a instituição. A UCS nasceu por iniciativa do prefeito de Caxias do Sul em 1967, Hermes João Webber; do dr. Virvi Ramos, da então Associação Científica e Cultural Nossa Senhora de Fátima; e do bispo diocesano Dom Benedito Zorzi, que era o grande líder daquele contexto. Cada instituição que eles lideravam tinha suas próprias faculdades. Naquele momento houve o entendimento que não adiantava cada um ter a sua faculdade e a cidade não ter uma universidade. Então, num esforço conjunto, abriram mão dos seus projetos pessoais para terem uma universidade que pudesse contemplar a comunidade como um todo, com a missão de ajudar o desenvolvimento da região.
De fato, isso aconteceu. Houve uma grande interação com a universidade, pois já formamos mais de 100 mil pessoas em todas as áreas do conhecimento. Temos uma diversidade grande daquilo que é a Universidade, a sua essência. Agregamos todo o tipo de saber numa dinâmica, num projeto que ajuda no desenvolvimento da região de uma forma sistêmica. Não desenvolvemos apenas uma área, e sim o todo, desde o médico, o engenheiro, o sociólogo, o pedagogo, o professor, o contador, o administrador, o filósofo, isso é uma Universidade. E nós, ao longo desses cinquenta anos, fomos nos constituindo e posicionando de uma forma firme e crescente, não só em nível local e regional. A UCS hoje tem uma respeitabilidade que muitas vezes nós não nos damos conta, mas recebemos feedbacks que mostram que ela está muito bem posicionada no cenário nacional, tanto nos rankings que nós temos como nas avaliações espontâneas que recebemos daqueles que nos avaliam.
Pois então, chegar agora aos cinquenta e dois anos e sermos considerados primeiro lugar em inovação entre as universidades privadas e comunitárias do país é uma alegria e também uma responsabilidade, de não deixar cair esse nível que atingimos. Precisamos continuar evoluindo para nos mantermos lá em cima, pois trabalhar para crescer é uma constante e precisamos trabalhar ainda mais para que as avaliações sejam sempre positivas.
E não é só isso. O destaque em relação à pesquisa no país mostra que temos uma excelente produção acadêmica, com mais de cem patentes produzidas, dentro de um modelo de universidade que nos consolidamos e estamos maduros. Para os próximos anos estamos bem encaminhados, evidentemente com alguns ajustes no contexto atual, pois antes éramos únicos na região, mas hoje temos 63 instituições atuando na região. E, por incrível que pareça, para todas as instituições sobram vagas. Disputamos o mesmo público, não aumenta proporcionalmente o número de alunos no ensino superior, a graduação presencial caiu nos últimos anos, aumentou o ensino a distância, no que observamos um pequeno crescimento, não tão significativo que justifique o surgimento de tantas outras instituições. Hoje a universidade tem uma concorrência muito grande, mas por um lado é positivo, porque isso faz com que nos atualizemos e provoquemos mudanças de adequação de estrutura e também no nosso posicionamento. Contudo, a dificuldade de termos muitos players no mercado afeta também a qualidade do processo formativo.
Existe uma resistência forte às concorrências internas?
Acho que é muito difícil construir uma universidade com o perfil da UCS. Temos dezoito mestrados e onze doutorados, alguns desses levamos dez, quinze anos amadurecendo com pesquisas, investindo em pesquisadores, sendo que demora em torno de 20 anos para formar um pesquisador de ponta, sem contar o alto grau de investimento.
As faculdades e os centros universitários não têm obrigação de realizar pesquisa, tanto é que eles não possuem mestrado e nem doutorado e nós, por outro lado, pelo fato de sermos universidade, até por uma questão legal, precisamos ter, mas temos três, quatro vezes a mais do que o exigido pelo Ministério da Educação. Não olhamos isso apenas pelo fato de sermos universidade e por termos que atender os requisitos técnicos, por isso estamos ampliando cada vez mais os programas de pós-graduação, alinhando nossas pesquisas que se destacam em nível nacional. Agora estamos dando uma guinada, para que essa produção de conhecimento científico e sociológico esteja muito mais ligada às questões de mercado e que não levem muito tempo para virar um novo produto. Por isso estamos fortalecendo a nossa relação de parceria com o setor empresarial, pois não adianta ter uma produção acadêmica forte que não se materialize no mundo dos negócios. Estamos redirecionando nossa força de produção para resolver problemas concretos.
‘Pés na região, olhos no mundo’. A frase tomou proporções gigantescas e ganhou outra que agrega muito valor à causa UCS: Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico.
Nós vamos continuar crescendo nesse viés, só agora estamos focando para que isso possa se transformar em produto, pois estamos falando de custos. Pesquisa não tem como foco gerar receita, é um plus para nos posicionarmos enquanto universidade. O que gera mais receita é a graduação. O desafio é que os frutos da pesquisa se transformem em valor agregado, em dinheiro propriamente dito.
Nessa área temos o Programa de Empreendedorismo, o de criação de startups, muitos eventos, mas as pessoas não se dão conta do quanto tem de investimento de hora de professor, de ensino, de modelar um negócio de discussão para gerar uma startup, tudo isso é custo pra nós. É muito fácil depois pegar uma startup pronta e investir nela porque viu um bom negócio. Mas agora, pouco se vê quem esteve por trás antes, gerando todo conhecimento, modelando um negócio, dando um suporte, com hora de professor, com pesquisador para que ela tenha sucesso. Reitero, tudo isso é custo pra nós. Mas estamos investindo, temos aí belas histórias de sucesso e algumas das startups estão se posicionando no mercado, já recebendo investimentos. Temos uma aceleradora ligada ao nosso parque científico e tecnológico, então as nossas startups que até então estavam sendo aceleradas fora do RS e em outros lugares poderão ser mantidas aqui, que é o nosso objetivo. Temos exemplos de startups que estão sendo aceleradas no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e aí nos criamos inovação tecnológica aqui e os caras vão embora. E como fica nosso setor empresarial? E não tem como segurar, veja como estas questões são complexas, porque o pessoal vai para onde existem investimentos.
(Continua…)

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